sábado, 24 de novembro de 2012

safe and sound - Capítulo 4 - 1ª Temporada




Não dormi bem aquela noite, mesmo depois de chorar. Ao fundo o ruído
constante da chuva e do vento no telhado não desaparecia. Puxei o velho
cobertor xadrez sobre a cabeça e mais tarde coloquei também o travesseiro.
Mas só consegui dormir depois da meia-noite, quando a chuva finalmente
se aquietou num chuvisco mais silencioso.

 Só o que eu conseguia ver pela minha janela de manhã era uma neblina
densa, e podia sentir a claustrofobia rastejando em minha direção. Jamais
se podia ver o céu aqui; parecia ema gaiola.

 O café da manhã com Carlos foi um evento silencioso. Ele me desejou
boa sorte na escola. Agradeci, sabendo que suas esperanças eram vãs. A boa
sorte geralmente me evitava. Carlos saiu primeiro para a delegacia, que
era sua esposa e sua família. Depois que ele partiu, fiquei sentada à velha
mesa quadrada, em uma das três cadeiras que não combinavam,
e examinei a pequena cozinha, com as paredes escuras revestida de ma-
deira armários de um amarelo vivo e piso de linóleo branco. Nada havia
mudado. Minha mãe tinha pintado os armários dezoito anos atrás numa
tentativa de colocar algum raio de sol na casa. Acima da pequena lareira
na minúscula sala adjacente, havia uma fileira de  fotos. Primeiro, uma
foto do casamento de Carlos e minha mãe em Las Vegas; depois, uma de
nós três no hospital em que nasci, tirada por uma enfermeira prestativa,
seguida pela procissão das minhas fotos de escola até o ano passado. Era
constrangedor olhar aquilo - eu teria de pensar no que poderia fazer para
que Carlos as colocasse em outro lugar, pelo menos enquanto eu morasse
aqui.

 Era impossível não perceber que Carlos jamais superou a perda da mi-
nha mãe ao ficar nesta casa. Isso me deixou pouco a vontade.

 Não queria chegar cedo demais na escola, mas não conseguia mais ficar
ali. Vesti meu casaco - que era meio parecido com um traje de biossegu-
rança - e saí para a chuva.

 Ainda estava chuviscando, não o suficiente para me ensopar em quanto
peguei a chave da casa, sempre escondida de baixo do beiral, e tranquei a
porta. o chapinhar da minha nova bote impermeável era enervante.
Senti falta do habitual esmagar de cascalhos em quanto andava. Não podia
parar e adimirar minha picape novamente, como eu queria; estava com
pressa para sair da umidade nevoenta que envolvia minha cabeça e grudava
em meu cabelo por baixo do capuz.

 Dentro da picape estava agradável e seco. Billy, ou Carlos, obviamen-
te  tinha feito uma limpeza, mas os bancos com estofado caramelo ainda
cheiravam levemente a tabaco, gasolina e hortelã. Para meu alívio o motor
pegou rapidamente, mas era barulhento, rugindo para a vida e depois ro-
dando em um volume alto. Bom, uma picape dessa idade teria suas falhas.
O rádio antigo funcionava, um bônus que eu não esperava.

 Não foi difícil encontrar a escola, embora eu nunca tivesse ido lá. Como
a maioria das outras coisa, ficava perto da rodovia. não parecia uma es-
cola - oque me fez parar foi a placa, que dizia ser a Stratford High School.
Era um conjunto de casas iguais, construídas com tijolos marrons. Havia
tantas árvores e arbustos que no início não consegui calcular seu tamanho.
Onde estava o espírito da instituição?, perguntei-me com nostalgia. Onde
estavam as cercas de tela, os detetores de metal?

 Estacionei na frente do primeiro prédio, que tinha uma plaquinha aci-
ma da porta dizendo SECRETARIA. Ninguém mais havia estacionado ali,
então eu certamente estava em local proibido, mas decidi me informar lá
dentro em vez de ficar dando voltas na chuva feito uma idiota. Saí sem
vontade nenhuma da cabine da picape enferrujada e andei por um pequeno
caminho de pedras ladeado por uma cerca viva escura. Respirei fundo antes
de abrir a porta.

 Lá dentro o ambiente era bem iluminado e mais quente do que eu
imaginava. O escritório era pequeno; uma salinha de espera com cadei-
ras dobráveis acolchoadas, carpete laranja manchado, recados e prêmios
atravancando as paredes, um relógio grande tiquetaqueando alto. Havia
plantas em toda parte em vasos grandes de plástico, como se não houvesse
verde suficiente do lado de fora. A sala era dividida ao meio por um balcão
 comprido, abarrotado de cestos e arames cheios de papeis e folhetos de 
cores vivas colados na frente. havia três mesas atrás do balcão. Uma delas
ocupada por uma ruiva grandalhona de óculos. Ela vestia uma camiseta
roxa que de imediato fez com que eu me sentisse produzida demais.

 A ruiva olhou para mim.

- Posso ajudá-la?

- Meu nome é Carolina Boner - informei-lhe e logo vi a atenção ilumi-
nar seus olhos. Eu era esperada, um assunto de fofoca, sem dúvida. A filha
da ex-mulher leviana do chefe de polícia finalmente voltara para casa.

- É claro - disse ela. E cavucou uma pilha instável de documentos na
mesa até encontrar o que procurava. - Seu horário está bem aqui, e há um
mapa da escola.  Ela trouxe várias folhas ao balcão para em mostrar.

 Ela indicou minhas salas de aula, destacando a melhor rota para cada
uma delas no mapa, e eme deu uma caderneta que cada professor teria que
assinar e que eu traria de volta no final do dia. Ela sorriu para mim e me
desejou, como Carlos, que eu gostasse daqui de Stratford. Sorri também, da
maneira mais convincente que pude.

 Quando voltei a picape, outros alunos começavam a chegar. Dirigi pela
escola, seguindo o trânsito. Fiquei feliz em ver que os carros, em sua maio-
ria, eram mais velhos que o meu, nada chamativo. em Ottawa, eu morava
em um dos poucos bairros de baixa renda incluídos no distrito de Paradise
Valley. Era comum ver um Mercedes ou um Poeche novo no estaciona-
mento dos alunos. O carro mais legal aqui era um Volvo reluzente, e este
se destacava. Ainda assim, desliguei o motor logo que cheguei a uma vaga
para que o barulho estrondoso não chamasse a atenção para mim.

 Olhei o mapa na picape, tentando agora memorizá-lo; esperava não ter
que andar com ele diante do nariz o dia todo. Enfiei tudo na bolsa, passei
a alça no ombro e respirei bem fundo. Eu vou conseguir, menti para mim
mesma debilmente. Ninguém ia me morder. Por fim soltei o ar e saí da
picape.

 Mantive a cara escondida pelo capuz ao andar para a calçada, apinhada
de adolescentes. Meu casaco preto e simples não chamava a atenção, como
percebi com alívio.

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ai esta o 3º capítulo, consegui postar hoje!!
comentem e espero que gostem. 
stay beautiful and bjustin

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