sexta-feira, 7 de dezembro de 2012
Safe and Sound - Capítulo 6 - 1ª Temporada
Pegamos nossos casacos e fomos para a chuva, que tinha aumentado. Eu
podia jurar que várias pessoas atrás de nós se aproximavam bastante para
ouvir o que dizíamos. Esperava não estar ficando paranoica.
- É ai, isto é bem diferente de Ottawa não é - perguntou ele.
- Muito.
- Não chove muito lá, não é?
- Três ou quatro vezes no ano.
- Puxa, como deve ser isso? - maravilhou-se ele.
- Ensolarado - eu lhe disse.
- Você não é muito bronzeada.
- Minha mãe é meio albina.
Apreensivo, ele examinou meu rosto, e eu suspirei. Parecia que nuvens e
senso de humor não se misturavam. Alguns meses disso e eu me esqueceria
de como usar o sarcasmo.
Voltamos pelo refeitório até o prédio do sul, perto do ginásio. Fábio me
levou à porta, embora tivesse uma placa bem evidente.
- Então, boa sorte - disse ele enquanto eu pegava a maçaneta. - Tal-
vez a gente tenha mais alguma aula juntos. - Ele parecia ter esperanças.
Sorri vagamente para ele e entrei.
O resto da manhã se passou do mesmo jeito. Meu professor de trigono-
metria, o Sr. Varner, que de qualquer forma eu teria odiado por causa da
matéria que ensinava, foi o único que me fez parar diante da turma para
me apresentar. Eu gaguejei, corei e tropecei em minhas próprias botas ao
seguir para minha carteira.
Depois de duas aulas, comecei a reconhecer vários rostos de cada turma.
Sempre havia alguém mais corajoso do que os outros, que se apresentava e
me perguntava se eu estava gostando de Stratford. Tentei ser diplomática, mas
na maioria das vezes apenas menti. Pelo menos não precisei do mapa.
Uma menina se sentou do meu lado nas aulas de trigonometria e espa-
nhol e me acompanhou até o refeitório do almoço. Era baixinha
vários centímetros menor do que me metro e sessenta e três, mas o cabelo
escuro, rebelde e cacheado compensava grande parte da diferença entra
nossas alturas. Não conseguia me lembrar do nome dela, então eu sorria
e assentia enquanto ela tagarelava sobre professores e aulas. Não tentei
acompanhar sua falação.
Sentamos à ponta de uma mesa cheia de vários de seus amigos, que ela
me apresentou. Esqueci o nome de todos assim que ela os pronunciou. Eles
pareciam impressionados com sua coragem de falar comigo. O menino da
aula de inglês, Fábio, acenou para mim do outro lado do salão.
Foi ali, sentada no refeitório, tentando conversar com sete estranhos
curiosos, que eu os vi pela primeira vez.
Estavam sentados no canto do refeitório, à maior distância possível de
onde eu me encontrava no salão comprido. Eram cinco. Não estavam con-
versando e não comiam, embora cada um deles tivesse uma bandeja cheia
e intocada diante de si. Não me encaravam, ao contrário da maioria dos
outros alunos, por isso era seguro observá-los sem temer encontrar um par
de olhos excessivamente interessados. Mas não foi nada disso que atraiu e
prendeu minha atenção.
Eles não eram nada parecidos. Dos três meninos, um era grandalão -
musculoso como um halterofilista inveterado, com cabelo escuro e crespo.
Outro era mais alto, mais magro, mais ainda assim musculoso, e tinha
cabelo louro cor de mel. O último era esguio, menos forte, com um cabelo
desalinhado cor de bronze. Era mais juvenil do que os outros, que pareciam
poder estar na faculdade ou até ser professor daqui, em vez de alunos.
As meninas eram o contrário. A alta era escultural. Linda, do tipo que se
via na capa da edição de trajes de banho da SPORTS ILLUSTRATED, do tipo que
fazia toda garota perto dela sentir um golpe na autoestima só por estar no
mesmo ambiente. O cabelo era dourado, caindo delicadamente em ondas
até o meio das costas. A menina baixa parecia uma fada, extremamente
magra, com feições miúdas. O cabelo era de um preto intenso, curto, pico-
tado e desfiado para todas as direções.
E, no entanto, todos eram de alguma forma parecidos. Cada um deles
era pálido como giz, os alunos mais brancos que viviam nessa cidade sem
sol. Mais brancos do que eu, a albina. Todos tinham olheiras - arroxeadas,
em tons de hematoma. Como se tivessem passado uma noite de insone, ou
estivessem se recuperando de um nariz quebrado. Mas os narizes, todos os
seus traços, eram retos, perfeitos, angulosos.
Mas não era por nada disso que eu não conseguia desgrudar os olhos
deles.
Fiquei olhando porque seus rostos, tão diferentes, tão parecidos, eram
completa, arrasadora e inumanamente lindos. Eram rostos que não se espe-
rava ver a não ser talvez nas páginas reluzentes de uma moeda. Ou
pintados por um antigo mestre como a face de um anjo. Era difícil decidir
quem era o mais bonito - talvez a loura perfeita, ou o garoto de cabelo
cor de bronze.
Todos pareciam distantes - distantes de cada um ali, distantes dos
outros alunos, distantes de qualquer coisa em particular, pelo que eu podia
notar. Enquanto eu observava, a garota baixinha se levantou com a bande-
ja - o refrigerante fechado, a maça se uma dentada - e se afastou com
passos longos, rápidos e graciosas apropriados para uma passarela. Fiquei
olhando, surpresa com seus passos de dança, até que ela largou a bandeja
no lixo e seguiu para a porta dos fundos, mais rápido do que eu teria pen-
sado ser possível. Meus olhos dispararam de volta aos outros, que ficaram
sentados, impassíveis.
- Quem são eles? - perguntei a garota da minha turma de espanhol,
cujo nome eu esquecera.
Enquanto ela olhava para ver do que eu estava falando - embora já
soubesse, provavelmente, pelo meu tom de voz - , de repente ele olhou
para ela, o mais magro, o rapaz juvenil, o mais novo, talvez. Ele olhou para
minha vizinha só por uma fração de segundo, q depois seus olhos escuros
fulguraram a mim.
ele desviou os olhos rapidamente, mais rápido do que eu, embora, em
um jorro de constrangimento, eu tenha baixado o olhar de imediato. Na-
quele breve olhar, seu rosto não transmitiu nenhum interesse - era como
se ela tivesse chamado o nome dele, e ele a olhasse numa reação involuntá-
ria, já tendo decidido não responder.
Minha vizinha riu sem graça, olhando a mesa como eu.
- São Justin e Chaz Bieber, e Jasmine e Christian Bieber. A que saiu é
Caitlin Bieber. Todos moram com o Dr. Bieber e a esposa. - Ela disse isso
à meia-voz.
Olhei de lado para o rapaz bonito, que agora fitava a própria bandeja,
desfazendo um pãozinho em pedaços com os dedos pálidos e longos. Sua
boca se movia muito rapidamente, os lábios perfeitos mal se abrindo. Os
outros três ainda pareciam distantes e, no momento, eu sentia que estava
falando em voz baixa com eles.
Nomes estranhos e incomuns, pensei. O tipo de nome que têm os avós.
Mas talvez seja moda por aqui - nomes de cidades pequenas? Finalmente
me lembrei de que minha vizinha se chamava Paula, um nome perfeita-
mente comum. Havia duas meninas que se chamavam Paula na minha
turma de história, na minha cidade.
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comentem e continuem bonitos bjustin...
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Continua *-*
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